Azevedo,
que já foi mecânico e preparador de motos de corrida, desenvolveu seu
produto na garagem de casa, em Itu (SP), onde mora, em momentos de
folga, especialmente nas madrugadas. Ele explica que o sistema é
composto por um reservatório de água, colocado na parte traseira da
moto. Esse reservatório é ligado, por um cano, a um recipiente que fica
ao lado da roda traseira onde Azevedo acoplou uma série de placas
metálicas negativas e positivas, com canais de diferentes diâmetros e
ranhuras intercalados Fernando de Souza /Staff News
Andar até 500 quilômetros sem uma gota de gasolina. E, ao reabastecer,
conseguir encher o tanque de graça, em qualquer torneira. Não, não se
trata do sonho de um motoboy. Esse é o resultado de um sistema,
desenvolvido pelo funcionário público Ricardo Azevedo, 56, capaz de
fazer com que motocicletas utilizem o hidrogênio obtido através da água
como combustível.
Diversos leitores escreveram para o UOL duvidando que o experimento seja verdadeiro. Tentamos solucionar algumas das dúvidas neste link
Nomeado Moto Power H²O, o sistema utiliza os princípios da propulsão
por hidrogênio, já conhecido da indústria automobilística. A inovação
foi fazer o sistema ser acoplado a uma motocicleta. "Essa tecnologia
pode ser adaptada em caminhões, ônibus, carros, enfim, qualquer veículo.
E é muito eficiente", ressalta ele.
Azevedo, que já foi
mecânico e preparador de motos de corrida, desenvolveu seu produto na
garagem de casa, em Itu (SP), onde mora, em momentos de folga,
especialmente nas madrugadas. Ele explica que o sistema é composto por
um reservatório de água, colocado na parte traseira da moto. Esse
reservatório é ligado, por um cano, a um recipiente que fica ao lado da
roda traseira onde Azevedo acoplou uma série de placas metálicas
negativas e positivas, com canais de diferentes diâmetros e ranhuras
intercalados.
As placas são alimentadas por uma bateria de
carro, acoplada próximo à roda traseira. Com a eletricidade, ocorre a
separação do hidrogênio da molécula de água. Através de um outro cano, o
hidrogênio, altamente explosivo, é enviado a um outro recipiente,
acoplado por Azevedo próximo ao reservatório, que envia o combustível
para o carburador da moto, onde ocorre a combustão.
"Eu utilizei
um craqueador, que separa as partículas de hidrogênio e de oxigênio da
água. O hidrogênio vai para o carburador e, de lá, é utilizado pelo
motor como combustível. Já o oxigênio é liberado para a atmosfera",
disse ele, ressaltando que o hidrogênio tem um poder de combustão quase
três vezes superior ao da gasolina.
O inventor explica ainda
que, embora o hidrogênio seja um gás com alto poder de combustão, o fato
de a produção de hidrogênio ser utilizada imediatamente pela moto, sem o
armazenamento, diminui a chance de explosão.
De acordo com o
professor de Química Ernesto Gonzalez, professor da USP (Universidade de
São Paulo) em São Carlos e cientista que está na lista dos mais citados
do mundo em sua área, o sistema desenvolvido pelo inventor de Itu se
baseia no processo de eletrólise. "Com a bateria de carro, ele consegue
efetivamente separar, pela eletricidade, o hidrogênio da água. A
quantidade gerada pode realmente fazer um veículo como uma moto se
movimentar. É um sistema relativamente simples", informa.
Gonzalez ressaltou ainda que o processo de utilização do hidrogênio no
sistema desenvolvido por Azevedo é similar ao que ocorria com carros
convertidos para funcionar, irregularmente, com gás de cozinha nos anos
1980 e 1990. "O modelo de combustão desses combustíveis é bem similar. A
diferença, nesse caso, é que o sistema consegue extrair o combustível,
que é o hidrogênio, da água. Mas a forma de o motor trabalhar é
praticamente a mesma", disse.
Diferenciais
Entre os diferenciais do sistema está a não emissão de poluentes, já
que apenas o vapor d'água é eliminado pelo escapamento. Além disso, a
economia em relação à gasolina é outro diferencial, já que Azevedo
relata que é possível fazer até 500 quilômetros com um único litro de
água. As motos convencionais raramente fazem mais de 50 quilômetros por
litro.
Segundo Azevedo, ele gastou, até o momento, R$ 6 mil no
projeto, que começou a ser desenvolvido há seis meses. Ele informou
ainda que, para uma possível utilização industrial, o projeto ainda
precisa de adaptações, mas que considera que "70% do produto está
desenvolvido". "Mas usei muita coisa que quebrou, materiais que, se
fosse fabricar hoje, não seriam usados. O custo para fazer um sistema
desses, hoje, seria bem menor", disse.
Azevedo conta ainda que
esperou um estágio adequado de evolução de suas pesquisas para divulgar
os resultados que conseguiu. "Eu testei na minha moto, uma NX 200
cilindradas, e ando com ela sem problemas. Trabalho em São Paulo, e
viajei todos os dias com essa moto, movida a água, durante o
desenvolvimento do produto", conta.
Desenvolvimento
O sistema foi desenvolvido em parceria com o filho dele, Gabriel, que é
químico. "Eu cuidei da parte de mecânica e meu filho acrescentou
conhecimentos de química que eu não tinha. Fizemos tudo com um grande
embasamento científico", disse.
Azevedo informa ainda que não
precisou modificar o motor da motocicleta, que pode funcionar, também,
com gasolina. "Pode rodar só com a água ou um híbrido, que aceita os
dois combustíveis. A estrutura do motor é a mesma, não altera, só muda o
combustível", disse.
Recarga da bateria
Já sobre a recarga e os custos eventuais de energia elétrica, Gabriel
Azevedo informa que, embora recargas adicionais possam ser necessárias, o
sistema desenvolvido por ele trabalha com recuperação de energia de
outros sistemas da moto, como os freios. "É um sistema parecido com o
KERS utilizado na Fórmula 1. Armazenamos essa energia, que abastece a
bateria. Mas não posso revelar mais do que isso sem expor os segredos do
sistema que criamos", disse.
Questionado sobre a autonomia do
sistema, Azevedo informou que ainda não terminou de fazer as
quantificações, mas que, em pequenos deslocamentos urbanos, o sistema é
capaz de manter a bateria por até uma semana sem a necessidade de
recarga externa.
Qualquer água
Embora tenha ressaltado que a utilização de água destilada dá maior
eficiência ao sistema, Azevedo informa que qualquer fonte de água pode
ser utilizada. Ele afirma que já chegou a abastecer a moto com água do
rio Tietê, que corta a cidade.
"Toda água, por mais poluída que
seja, é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Então, a
moto pode ser abastecida em qualquer torneira", disse.
Azevedo
informou ainda que está à procura de investidores que possam se
interessar em participar do projeto. "Eu faço isso de acordo com minhas
possibilidades, e sou funcionário público. Claro que um parceiro poderia
acelerar muito o desenvolvimento", disse.
Eduardo Schiavoni
Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)