EUA correm risco de 'mega seca' inédita em mil anos
16/02/2015 | 08h51min
O
sudoeste e as planícies centrais dos Estados
Unidos correm o risco de enfrentar uma mega seca a partir de 2050 –
a maior em mil anos, segundo pesquisadores.
Algumas
regiões, como a Califórnia, já enfrentam uma séria escassez de
chuvas, mas a situação é branda se comparada com alguns períodos dos séculos 12
e 13.
"Essas
mega secas durante os anos 1100 e 1200 persistiram por 20, 30, 40, 50 anos de
cada vez e foram secas que ninguém na história dos Estados Unidos jamais
experimentou", disse Ben Cook, do Instituto Goddard para Estudos Espaciais
da Nasa.
São esses
eventos climáticos sem precedentes no último milênio que podem vir a acontecer,
segundo os novos modelos.
"As
secas que as pessoas conhecem – como a que foi chamada de dust bowl nos anos
1930 por causa das tempestades de areia, a seca dos anos 1950 ou mesmo a atual
seca na Califórnia e no sudoeste – foram secas naturais que esperava-se que
durassem apenas alguns anos ou talvez uma década", disse Cook.
"Imagine
se a seca atual na Califórnia continuasse por mais 20 anos", comparou.
Duplo
efeito
O estudo reforçou um consenso sobre as secas que deverão afligir o sudoeste e as planícies centrais americanas (uma larga faixa de território do norte do Texas até as Dakotas do Norte e do Sul) em consequência das crescentes emissões de gases na atmosfera.
O estudo reforçou um consenso sobre as secas que deverão afligir o sudoeste e as planícies centrais americanas (uma larga faixa de território do norte do Texas até as Dakotas do Norte e do Sul) em consequência das crescentes emissões de gases na atmosfera.
Elas
serão causadas por um fenômeno duplo: a precipitação reduzida (redução da
quantidade de chuvas e neve) e o aumento da evaporação (impulsionado pelas
altas temperaturas, que deixará os solos mais ressecados).
Para o
novo estudo, a equipe de Cook comparou reconstruções das condições climáticas
do passado feitas a partir da análise dos anéis de crescimento das árvores – os
anéis são mais largos em anos mais úmidos. Foram levados em conta também outros
17 modelos climáticos, além de índices diferentes usados para descrever a
quantidade de umidade que se manteve nos solos.
Com estas
informações, os pesquisadores conseguiram entender a variação natural do
sistema climático, separando o que são situações normais e o que seriam
situações extremas.
O que o
grupo descobriu foi que, após 2050, o sudoeste e as planícies centrais
provavelmente passarão por períodos de estiagem que ultrapassariam até mesmo a
chamada "anomalia climática medieval" nos séculos 12 e 13.
"Tanto
no sudoeste quanto nas planícies centrais, estamos falando de um risco de 80%
de uma seca de 35 anos até o final do século, se a mudança climática se
consumar", disse o coautor do estudo Toby Ault, da Universidade de
Cornell.
"E
esse é um ponto muito importante – não estamos necessariamente presos neste
alto risco de uma mega seca se tomarmos providências para retardar os efeitos
da emissão dos gases estufa nas temperaturas globais."
Vivendo
em estiagem
Ault definiu as condições de uma mega seca usando o exemplo da cidade de Tucson, no Arizona, onde a precipitação está em 80% dos níveis esperados desde o final dos anos 1990. Se isso continuar por mais duas décadas, a situação se qualifica como mega seca.
Ault definiu as condições de uma mega seca usando o exemplo da cidade de Tucson, no Arizona, onde a precipitação está em 80% dos níveis esperados desde o final dos anos 1990. Se isso continuar por mais duas décadas, a situação se qualifica como mega seca.
Apesar do
desafio, o pesquisador se disse otimista com a possibilidade de desenvolver
estratégias para lidar com o problema.
"Os
registros que temos de mega secas do passado são baseados em estimativas de
anéis de crescimento. Se você pensar bem, isso é um pouco animador, porque
significa que as secas não foram ruins a ponto de matar todas as árvores",
disse Ault.
"Estou
otimista porque uma mega seca não significa não ter água – significa apenas ter
muito menos água do que nos acostumamos a ter no século 20."
O estudo,
divulgado na publicação científica Science Advances, foi discutido no encontro
anual da Associação Americana para o Avanço das Ciências, que acontece em San
Jose, na Califórnia.
G1
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